A morte nos causa reflexão e, obviamente, está em muitas obras publicadas de autores diversos. É um tema para inúmeras considerações e há autores que não perderam tempo ao colocar a criatividade e a genialidade em prática.
Já pensou se a morte um dia “parasse de trabalhar”? O que aconteceria com funerárias, hospitais e empresas de seguro de vida? O que seria das famílias com entes queridos moribundos? Conseguiu imaginar? Não? Mas José Saramago sim! Em seu livro publicado em 2005, “As intermitências da morte”, o saudoso escritor português nos leva a um país onde a morte tirou férias, e acabou se enrolando até o pescoço. Protagonista da trama, ela assumiu a forma humana e deu até comunicado nacional em rede aberta.
Também há a morte na perspectiva do morto, em um livro sensacional, “A morte de Olivier Becaille”, do escritor francês Émile Zola. Em uma manhã, o personagem passa mal, fica desacordado; na verdade, como um morto, mas continua ouvindo tudo o que se passa ao seu redor. Trata-se de um caso de catalepsia, uma “morte temporária” do corpo, já explicada pela medicina. Olivier sabe desse estado, mas a esposa não. Por fim, ele é enterrado vivo e narra a angústia dessa situação, com um final surpreendente.
Alguns autores nos trouxeram, em suas obras, o medo da morte, um sentimento recorrente. Posso citar “A morte de Ivan Ilitch”, do escritor russo Lev Tolstói. O autor era obcecado pelo tema e lançou, em 1886, a história de um funcionário público que cai de uma escada, ao ajeitar a cortina de seu novo apartamento. Algo que parecia banal evolui para sintomas graves e irreversíveis. Um motivo e tanto para destrinchar a morte sob diversos aspectos. De acordo com o personagem principal, ela é indigna para aqueles que tanto brilharam em vida.
Para citar uma obra nacional, há a famosa obra “Memórias póstumas de Brás Cubas”, de 1881, de Machado de Assis. O livro começa com descrição do enterro pelo próprio defunto, que assiste a tudo, de fora de seu corpo sem vida.
“Sem choro, nem vela”, alguns escritores foram a fundo em sua imaginação para tratar desse tema “árduo e misterioso”. Não basta simplesmente que o personagem morra. Há várias especulações em torno e que nem chegam a questionar o que há depois, como paraíso, inferno ou outra existência. O próprio corpo sem vida já basta para a reflexão, a imaginação e a surpresa.
Munique Duarte (Santos Dumont, Brasil, 1979). É jornalista, formada pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Lecionou língua espanhola por dez anos, tendo estudado no CELEC – Córdoba (Argentina). Tem textos publicados em diversos sites, revistas e jornais literários, como Jornal Relevo, Jornal Opção, Revista Diversos Afins e Livro&Café. É idealizadora e apresentadora do programa mensal Literatura na Rádio Cultura, em Santos Dumont-MG. Participou das antologias Escritos de Amor (Casa do Novo Autor Editora) e Poesia e Prosa no Rio de Janeiro (Taba Cultural). Foi um dos autores selecionados na 1ª Mostra de Tuiteratura, apresentada em São Paulo, com frases poéticas do twitter. Desde 2010, mantém seu blog de contos e poemas, Textos Imperdoáveis. É colunista da Philos com a sessão “Não deixe de ler”.
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