Fruta-poema

Sobre a toalha, versos apetitosos
Compõem o milagre da poesia.
Há poemas suaves,
Com sabor de pera e maçã;
Há poemas ácidos,
Amargando o limão e o abacaxi;
Há poemas carnudos,
Com a textura cremosa do abacate;
E os de versos azul-arroxeados,
No tom dos blueberries, da amora e açaí;
Há poemas de cheiro,
Trazendo à mente o caju e o cupuaçu;
E os de polpa macia,
Com toque de mamão, melão e caqui;
Há poemas aveludados,
Com pele de pêssego e nêspera;
E os de paladar especial,
Como o da jabuticaba, do morango e kiwi;
Os produzidos em cachos, dependurados,
Recordando a lichia, o coquinho, a banana;
Há poemas agridoces,
Com gosto de maracujá e bacuri;
Há os de versos suculentos,
Como a laranja e a melancia;
E os de versos tímidos, apertados, escondidos,
Sob a casca dura da romã, do cacau, do pinhão;
E os de polpa multiplicada,
Na fruta do conde, na jaca, na graviola.

E o que dizer dos debulhados sobre a mesa?
Feito grãos cuidadosamente selecionados?
Haicais em porções celebrando a natureza?

E dos que têm a graça de lembrar Jesus?
Poemas pão e vinho consagrados no altar?
Versos trigo e uva, corpo e sangue e cruz?

Atrás das harmoniosas vogais e consoantes,
Há os sinais de Deus e a admiração do poeta.
Em coautoria e fiel cumplicidade,
Alimentam a arte com seus frutos-poema.


Lucrecia Welter (Paraná, 1953). Escritora multipremiada e presidente da Academia de Letras de Toledo, Paraná. É Revisora de textos da Revista Philos e Curadora de Literatura lusófona da mesma Revista. Tem diversos livros lançados e publicações em coletâneas poéticas.

Publicado por:Philos

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