Terra mãe
Minha terra era minha morada
Minha terra era minha vida
Minhas florestas
Meus rios, meus bichos
Minha língua, minha alma
Minhas asas.
Eu corria, eu caçava
Eu dançava, eu sorria.
Eu era rico, fui um príncipe
Agora sou mercadoria.
Eu era um pedaço daquela terra
Agora sou uma coisa no mundo.
Naquele dia…
Naquele dia me tiraram tudo.
Fui abduzido:
A luz tornou-se escuridão
Sem piedade fui lançado num alçapão.
Aquele navio…
Naquele navio.
Me trouxeram para terras distantes
Minhas florestas, canavial
Meus rios, pantanal
De homem à animal.
Meus bichos:
Morcegos que sugam meu sangue,
Agora não corro mais,
Não caço, sou caçado.
Minha dança virou lamento
Meu canto, sofrimento
Meu sorriso, um choro constante.
De príncipe à sapo
Da tribo à reclusão
Da veste ao trapo
Do amor à solidão
Da liberdade: Escravidão.
Paulão de Oliveira (Espírito Santo, 1961). Formado em Ciências Contábeis pela Universidade Federal do Espírito Santos – UFES.
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