Ars poetica
marcar o papel a palavra
fogo
coisa que queime,
que permita combustão
rasgar a folha a metáfora
faca
coisa que corte,
que sangre emoção
lamber a linha a imagem
língua
coisa que arrepie,
que concentre tesão
molhar o branco a figura
água
coisa que inunde,
que contemple imensidão
O toque do tambor (sabedoria)
Toque bonito que me encontrou
Ao seu vento o meu mar se norteou
E ante você e sua lindeza rara
Meu corpo fremi e minha boca cala
Toque filho dos raios de Iansã
E das águas claras de Iemanjá
Minha paz canta feito sabiá
Sua essência sorvida da manhã
Toque que vestiu minh’alma de amor
Trago as saudações e as bênçãos de Xangô
A noite chegando, seu véu sombrio
E a sua presença irradiando brilho
Toque herdeiro de Oxóssi, das matas de curumim
Agora e sempre você em mim
Guardar em solo fértil a sua cadência
E tratá-la respeitosa como pura ciência
Um modo qualquer
Saber utilizar a dor
É sinal de destemor
Diante da vida
– Às vezes, mocinha, outras, bandida –.
Fechar janela ou cortina
E não acolher o que desatina,
Significa lançar mão
Do medo, que aparece em vão.
Nunca se bastar na tolerância;
Ela cria grande distância
Do objetivo que se deve alcançar:
Igualdade no aproveitamento do que se ofertar.
A ventura é tudo o que se quer,
Mas só disso não se constitui o mundo
– Preparar-se para ir fundo
E emergir de dissabores quaisquer –.
É dessa comunhão que se faz o vencedor
– Aquele que se arrisca à beleza no temor,
Apreende a enxergar o devido caminho,
Mesmo quando sem o amparo do seu ninho –.
Leitura de imagens
sorver o
verso
feito
sorvete
mirar a
rima
feito
marina
ouvir o
uivo
viúvo
do poema
em cena –
cinema.
Paulo Sabino (Rio de Janeiro, 1976). Poeta, edita o site literário Prosa Em Poema. Coordena o projeto Ocupação Poética, no teatro Cândido Mendes de Ipanema, o projeto “Somos Tropicália”, no Gabinete de Leitura Guilherme Araújo, em Ipanema, promovendo encontros poético-musicais entre artistas da nova geração e poetas consagrados para apresentarem, sob novos olhares, os clássicos do movimento tropicalista e para leitura de textos e poemas de bossa tropicalista. Organiza e promove o Sarau do Largo das Neves, em Santa Teresa, que acontece na penúltima ou na última quinta-feira de cada mês.
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