tempo
eu que segurei em meus braços
vidas cheias de esperanças
que já embalei em meu leite
noites sem fim
sinto o peso
da passagem incessante
dos dias e homens.
bebo e como a rosa atômica
em produtos laboratoriais
o ozônio a escorrer em cloacas
as fronteiras-muro e não caminho
olhos fundos de fome
a assombrar meus pesadelos mornos
dedos secos da fome de amor
por não ter um rosto para acariciar
crianças de barrigas inchadas
pelo verme da ganância
e pergunto: “por quê?”
mas não paguei o dízimo
e deus tornou-se surdo
então sozinha
só ouço minha voz.
se outro destino
vier desse útero já berço
o abraçarei dizendo
“vá, faça!
o meu tempo já se foi”
e emudeço
pois não posso mais
Roy David Frankel (Rio de Janeiro, Brasil). É doutorando em Ciência da Literatura (UFRJ), autor de Sessão (Luna Parque, 2017). O poema tempo é parte do próximo livro do autor, Fractal, a ser publicado em 2018.