Imagine um homem que foi para a guerra e que após todas as batalhas vencidas demorou vinte anos para voltar para casa. No percurso, enfrenta monstros marinhos, embarcações que afundam, o medo de ver seus companheiros de viagem mortos, fantasmas, sereias perigosas, deuses em fúria e centenas de homens que invadiram sua casa para cortejar a esposa abandonada. Ele vence cada desafio e volta a seu trono, triunfante. Ele se chama Ulisses. Essa história foi escrita no século VIII a.C., sendo “A odisseia”, do poeta grego, Homero.
Agora imagine um homem que assassina uma senhora que é agiota e rouba seu cofre. A irmã da vítima surge repentinamente no apartamento, e ele não vê outra alternativa do que matá-la da mesma forma. Ele nem chega a vender os objetos de ouro, para ajudar a irmã e mãe, que passam por dificuldades financeiras. Raskólnikov é jovem, ex-estudante de direito, e se vê atormentado por não ter feito nada de importante na vida. Com sua idade, Napoleão já era general, ele pensava, e tinha passado por cima de muita gente. Essa obra é “Crime e castigo”, lançada em 1866, pelo escritor russo, .
Um clássico é um livro que não termina na última página. Encerramos a leitura e ficamos com ela na cabeça por vários dias, refletindo sobre o que foi escrito, revendo nossos próprios conceitos e analisando a nossa vida por outros ângulos. Recriminamos ou apoiamos o personagem, com uma força que parece que somos nós mesmos os envolvidos na trama. Um clássico não se desatualiza. Ele lida com sentimentos gerais, como inveja, ambição, ciúmes, paixão ou desprezo, de uma maneira em que todos possam se identificar, em algum momento, com algo que foi escrito.
Um livro clássico não é, necessariamente, um livro difícil. Livro bom é aquele que ainda fica em nossa cabeça, e a gente tem vontade de reler e reinterpretar tudo outra vez. Citei, acima, uma obra de antes da era cristã e uma do século XIX, daquelas que quando paramos de ler já é de madrugada e nem vimos o tempo passar! Os clássicos têm poder de sobra e são, em sua maioria, de leitura acessível. Experimente um deles! E se prepare para uma grande aventura.


Munique Duarte (Santos Dumont, Brasil, 1979). É jornalista, formada pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Lecionou língua espanhola por dez anos, tendo estudado no CELEC – Córdoba (Argentina). Tem textos publicados em diversos sites, revistas e jornais literários, como Jornal Relevo, Jornal Opção, Revista Diversos Afins e Livro&Café. É idealizadora e apresentadora do programa mensal Literatura na Rádio Cultura, em Santos Dumont-MG. Participou das antologias Escritos de Amor (Casa do Novo Autor Editora) e Poesia e Prosa no Rio de Janeiro (Taba Cultural). Foi um dos autores selecionados na 1ª Mostra de Tuiteratura, apresentada em São Paulo, com frases poéticas do twitter. Desde 2010, mantém seu blog de contos e poemas, Textos Imperdoáveis. É colunista da Philos com a sessão “Não deixe de ler”.

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