Ofélias

Há quem diga
Todos os erros
São cometidos
Por engano
Ao fim da tarde
Ou ao fim da hora estável
As Ofélias vagam fugazes
E serenadas
Há água demais
Para suas lágrimas
A morte é profunda
E perfumada
De inquisições interiores
As Ofélias sabem
Somente
Aos vis e medíocres
O enigma não pesa

Moscas

Corro o dia
Sem a mínima vontade de existir

Sou jovem e padeço
De possibilidades

Mas nada nesta vida é crucial
Exceto ganhar dinheiro

Porque já não há honra a resguardar
Ignoro o espectro do pai que pede vingança

Hamlet me ensinou
Tudo que nos retarda a ação
Retorna em forma de cadáveres

Nunca sei se falo difícil e ninguém me entende

Tenho pesadelos com toboáguas
Detesto gente molhada deslizando em alta velocidade

Vou parar num retiro
No interior não consigo
Meditar de olhos abertos

Duas moscas circulam minha cabeça
E cada uma pousa numa bochecha
Estalo as duas mãos na cara

Vocês têm ideia do terremoto que isso representa na cabeça de um indiano?
Antes de ser expulsa o guru grita

Killing não!
Enquanto rege os braços
Go moscas go!


Yasmin Nigri (Rio de Janeiro, 1990) é autora de Bigornas (Editora 34, 2018) e colaboradora da Revista Caliban. Bacharel e mestre em filosofia pela Universidade Federal Fluminense, atualmente cursa o doutorado na PUC-Rio.

Publicado por:Philos

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