Uma ave uma só ave
ponto negro em rosto
de turquesas apuradas
vagueia sem nota
de regresso ou despedida

Na brisa saboreia-se
o sal que tempera a tarde
ao de leve estremecem
copas de pinheiros
carvalhos e figueiras solitárias
um estertor como espasmo
doce tão doce

E uma passada surda
na gravilha batida
dá um ritmo que se perde
no próprio ritmo de tudo

Na curva da estrada deserta
um gato deita-se ao vazio
como lentos os amantes
morrem nos braços do amor

Há em tudo isto
um fascínio absoluto
que não necessita de nome
para cintilar ínclito
no coração do silêncio


Pedro Belo Clara (Lisboa, Portugal, 1986). Ocasional prelector de sessões literárias, colaborador e colunista de diversas publicações portuguesas e brasileiras, autor de três blogues e de seis livros, entre poesia e prosa.

Publicado por:Philos

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