Allan Weber, artista representado pela Galatea, faz sua estreia solo na cidade de São Paulo com Allan Weber: Novo Balanço. Desdobramento de sua pesquisa sobre lonas usadas nos bailes funks do Rio de Janeiro, a exposição ocupa dois andares do mezanino do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), no icônico edifício modernista projetado por Rino Levi, com nove obras de parede e dois projetos site-specific inéditos. A abertura da exposição, foi realizada em parceria com a Central Galeria e integra o tradicional Circuito SP–Arte; uma série de eventos gratuitos que antecedem a feira movimentando as galerias de arte e design da capital paulistana.

A série de trabalhos que dá título à exposição evidencia a continuidade e o aprofundamento do artista nos estudos cromáticos, com as materialidades, suportes e suas interseções com as arquiteturas dos espaços. A pesquisa de Allan caminha interessada nas disputas sociais, geopolíticas e simbólicas, e, por isso, seu percurso pelas linguagens se propõe a questionar e contrapor os estigmas dos espaços historicamente subalternizados. Para Jean Carlos Azuos, autor do texto crítico da mostra:

Se, por um lado, a história contemporânea brasileira condiciona periferias como espaços de violências, ausências e outras considerações absurdas, Weber, nascido e criado na favela 5 Bocas, no Rio de Janeiro, segue sacudindo esse panorama, na capilaridade de enxergar nesses espaços os conceitos, as manufaturas, seus códigos e tecnologias, perspectivas estas que incidem esteticamente no pensamento e na plasticidade de sua produção.

Assim, a lona usada nos bailes funks vai aparecendo como interface das experimentações em pinturas expandidas, esculturas e instalações. No trabalho site specific Passinhos, o artista explora o espaço expositivo a partir das formas, cores e as infinitas possibilidades de dobras e movimentos do resistente tecido. Durante a exposição, o trabalho ocupa o lugar onde por anos esteve instalado o móbile do maior expoente da arte cinética, Alexander Calder, que faz parte da coleção do IAB e hoje se encontra em restauro. Assim, a presença do trabalho de Weber justo nesse espaço ainda ganha o sentido de atualizar os usos e abordagens dessa importante vertente da arte moderna. Para Allan Weber:

Penso na questão do deslocamento desse material, colocando-o dentro de um prédio de arquitetura, dentro de um museu ou dentro de uma galeria. Essa desconstrução parte desde o início do meu trabalho, já com as outras séries. Em Novo Balanço eu fui enxugando algumas coisas, descobrindo novas formas, novos balanços, a monocromia, ressignificando a lona e a sua forma de montá-la, o Novo Balanço é a dança das lonas. Allan Weber

A atual série de Allan articula espelhamentos com a história da arte brasileira a partir das confluências entre as suas obras e os movimentos concretista e neoconcretista, caracterizados pela busca por inovação e vanguardismo. Eles desafiaram as convenções estéticas e conceituais dominantes de seu tempo, propondo novas formas de expressão e modos de pensar e fazer arte, implicados a partir de contextos sociais. É isso que o artista pontua, as ressonâncias da busca de uma autenticidade e de novos gestos de operação na arte.

O público pode andar entre as obras, perceber as nuances das materialidades no espaço, se sentir em uma dança com as lonas. A mostra um flerte com as ordinariedades das coisas no mundo, refletidas na arte, no gesto, nos arranjos estéticos e, sobretudo, em suas circunscrições sociais e políticas.

Em Novo Balanço, Weber dá continuidade ao movimento que iniciou em sua primeira individual Existe uma vida inteira que tu não conhece (2020) para ampliar os acessos ao seu lugar de origem, sua comunidade, que é superfície central de suas referências, que inspiram e atravessam suas provocativas manobras estéticas.

Allan Weber nasceu e vive na comunidade das 5 Bocas em Brás de Pina, Rio de Janeiro. Entre as experiências que despertaram seu interesse pela arte estão o seu contato com a pixação e com a fotografia. Desde então, aprofunda e desenvolve a sua pesquisa no campo da fotografia e da produção de objetos e instalações. Em 2021, realizou o curso Formação e Deformação da Escola de Artes Visuais do Parque Lage e abriu a galeria 5 Bocas, localizada no bairro onde mora.

Allan aborda, por meio de diferentes linguagens, o dia a dia em uma comunidade do Rio de Janeiro. Ao fazê-lo, não se posiciona simplesmente como um observador: esta realidade que compartilha com o público é a sua e a de todos que o circundam. Por meio do título de sua primeira exposição individual, o artista nos diz Existe uma vida inteira que tu não conhece (2020) – e, desse modo, evidencia o seu interesse em convocar e mobilizar o olhar do outro em direção ao desconhecido. 

Em maio de 2020, a série fotográfica Tamo junto não é gorjeta, feito durante a pandemia do coronavírus, quando trabalhou como motoboy de aplicativo, foi capa da revista Zum #20, editada pelo Instituto Moreira Salles. Nessas imagens, é explicitado o abismo entre a vivência dos seus colegas de trabalho e aquela dos clientes dos deliveries. No mesmo ano, publicou em edição independente o fotolivro Existe uma vida inteira que tu não conhece, que toma emprestado o título da sua primeira individual. Entre as principais exposições que participou, estão: Abre Alas 17, A Gentil Carioca, Rio de Janeiro, 2022; Saravá, Galeria Anita Schwartz, Rio de Janeiro, 2022; A gente precisa se ver pra acreditar que é possível, 5bocas, Rio de Janeiro; Rebu, Parque Lage, Rio de Janeiro, 2021; Existe uma vida inteira que tu não conhece, Dízimo A Noiva, Rio de Janeiro, 2020.

 

Allan Weber (2024)

Serviço: Exposição Allan Weber: Novo Balanço, no mezanino do IAB – Instituto de Arquitetos do Brasil, na Rua Bento Freitas, 306. Uma realização da Galeria Galatea.


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Publicado por:Philos

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