O fascismo está entre nós e a barbárie já ataca todos(as) os(as) oprimidos(as), o momento nos mostra graves violações aos direitos básicos. Os trabalhadores, sejam eles da cultura ou não, se vêm ameaçados pela supressão do direito à vida e por conseguinte, de sua produção, com a limitação de apoios, a volta da censura e até mesmo ataques físicos.

A cultura permeia todas as ações da sociedade. A auto-organização do povo, sua forma de resistir ou de se acomodar, seu modo de encarar as adversidades; sua luta, individual ou coletiva, tudo isso é cultura. É pela cultura que nos superamos e buscamos a solidariedade, a democratização das riquezas e do conhecimento e exercitamos o nosso papel transformador. A cultura não é neutra, é nela que a luta de classes aparece de maneira clara, onde também pode-se optar por continuar a replicar práticas autoritárias e conservadoras. Pois a elite continua impondo e reproduzindo uma cultura dominante e opressora.

Na resistência dessa perspectiva, sobrevivendo em um país cada vez mais precário de apoio cultural, onde arte e cultura se fazem necessários; o Centro de Teatro do Oprimido reafirma que arte e política estão nevralgicamente conectadas, não existindo manifestação artística que não demonstre sua posição política, mesmo quando afirma não tê-la. Sendo a arte um meio fundamental para a construção de uma política que não despreze suas subjetividades e conexões com o meio social, contribuindo com práticas políticas mais democráticas e participativas, revelando estruturas opressoras que muitas vezes não são identificadas. Nesse processo contínuo de construção social, o CTO possui atualmente dez grupos populares de Teatro do Oprimido formado por negros, favelados, mulheres LGBTI, trabalhadores, entre outros. Todos formados por oprimidos que se reafirmam como sujeitos-autores e produtores de sua arte.

Dentre esses grupos, destaco o que trabalho mais diretamente como diretor artístico e que tem como coordenador pedagógico o artista Julian Boal: a Escola de Teatro Popular, a ETP, formada por militantes de movimentos sociais. Nossa proposta para a ETP baseia-se em utilizar técnicas teatrais como as do Teatro do Oprimido, com o agit-prop, teatro político, teatro épico e dialético, para, a partir delas, não repetir modelos já pré-estabelecidos, mas compreendê-los de outra forma, praticando-os de acordo com a nossa realidade, disputando a construção de novas subjetividades.

Criada logo após o golpe político que culminou com o impeachment da presidente Dilma Rousseff e diante da ascensão do conservadorismo, a ETP quer delimitar espaços críticos que possam refletir transformações individuais e coletivas no espaço social. Por isso, a ETP conectou-se em parceria direta com movimentos sociais, entendendo a importância do trabalho de base em sua capacidade de suprir os anseios de uma ampla transformação da sociedade. Tendo clareza da necessidade cada vez mais urgente de uma transformação da sociedade.

Diante disso, fora realizado um primeiro espetáculo – Guerrilha Teatral , no dia 1º de maio, com textos clássicos do teatro político das décadas de 50 e 60 de Augusto Boal, Oduval Vianna Filho, Gianfrancesco Guarnieri e o Teatro-Jornal. Após a estreia, as atividades da ETP concentraram-se em estudos teórico-práticos da obra de Brecht, em especial do texto “A Decisão”, acerca do trabalho político individual e o coletivo dentro do arquétipo de um partido político. Atualmente, as ações incluem a realização de oficinas nos próprios locais dos movimentos sociais que compõem a ETP. Para além dessas iniciativas, soma-se a criação do espetáculo de Teatro-Fórum, contemplando a diversidade de temáticas debatidas pelo grupo do CTO, teatralizando situações de opressão, como a repressão policial, tortura, autoritarismo, etc. O teatro contra o fascismo, não dissociando a arte da conjuntura social, reafirmando os princípios éticos já citados por Boal: “Penso que todos os grupos teatrais verdadeiramente revolucionários devem transferir ao povo os meios de produção teatral, para que o próprio povo os utilize à sua maneira e para os seus fins. O teatro é uma arma e é o povo que deve manejá-la!”.

A ETP considera que militantes e artistas têm a tarefa de participar ativamente na construção de um processo transformador radical. Para isso faz-se necessária a consciência coletiva (inclusive de grupos que tradicionalmente não são visto como culturais, como os sindicatos, igrejas, Ong’s e universidades) de que apenas através da luta coletiva é que seremos capazes de mudar a sociedade. Pensando nesse ideal, o CTO, lançou a FAC – Frente Antifacista da Cultura.

Devemos nos unir contra as perseguições e o autoritarismo, lutar pela independência da arte e da educação libertária, garantindo o direito de existir e avançando em ações diretas que influenciem grupos culturais no espaço da sociedade.

Publicado por:Philos

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