o ruído do mar
Existe um tecido
Uma rede luminosa
que tremula na areia, por baixo d’água.
Vê-se através do verde transparente
como uma tremulante trama.
Quando a onda irrompe sua espuma
restam borbulhas soltas, pequeninas
sobre a pele da água:
brilham intensa, nitidamente
em seguida se apagam.
Pela suave curva das ondas
sobre um lento avançar
sobre seu amplo movimento seguro
a luz resvala
e desliza com resplendor
pelos movediços tobogãs de água.
Ruído do mar, que golpe despejado
que entreverada voz e que som
tão confuso e obscuro
Quando tudo ao redor está tão claro.
Todas as fronteiras
rígidas e recortadas
tudo com sua cor tão decidida
as cores tocando-se
uma ao lado da outra, sem mesclar-se.
E parece que cada um: limpo
e liso azul, telhado avermelhado
e brilhante esverdeado
dera um som puro e inaudível
e a todos um acorde forte e claro
Mas o ruído do mar não se compreende,
desmorona-se continuamente, insiste
uma vez e outra vez, com algum cansaço
com uma voz confusa e sem vontade…
e não se sabe
o que é que quer ou que pede
o turvo ruído obscuro
quanto tudo ao redor está tão claro.
mito amazônico
Escuta a história da Morte.
Ela estava sobre a terra, mas escondida.
Ela não estava lá embaixo.
Uma água subterrânea, pura
era a bebida dos imortais
debaixo da terra.
Quem foi culpável?
Aquele que saiu e irrompeu e saltou para fora
por ter escutado um canto de pássaro.
Não tivera escutado.
Não devia sair.
Ele deixou o lugar protegido.
Ele juntou frutas, plantas
e levou para dentro, debaixo.
E em cada fruto estava a semente da morte.
Caíram as sementes. Germinaram.
Tradução de Luiz Otávio Ribas
Luiz Otávio Ribas (Porto Alegre, 1983), poeta, autor do zine “Levantando do chão num só impulso”.
Circe Maia (Montevidéu, 1932), poeta, membra correspondente da Academia de Letras do Uruguai, recebeu a medalha Delmira Agustini.
Um comentário sobre ldquo;neolatina: dos poemas de Circe Maia”
Os comentários estão encerrados.