Wir Sind die Treibenden
(In: Die Sonette an Orpheus, Erster Teil XXII)
Os apressados
somos
mesmo sem querermos
Corremos empurrados
como água que se despenha
duma alta cascata
Caindo
a água paira um instante no ar
abrindo o prisma
de um breve arco-íris
e depois prossegue
esquecida do vôo
Para quê o vôo
a queda
a flor?
Onde o repouso?
Há uma benção divina
no esquecimento
O poema Os apressados faz parte do livro Rilkeana (1999) da escritora portuguesa Ana Hatherly. A edição #8 da Revista Philos trará um poemário especial da escritora acompanhado de trechos inéditos de uma entrevista cedida para Ana Marques Gastão, realizada em 2008. Ana Hatherly nasceu no Porto em 1929, foi poeta, artista plástica, cineasta, ensaísta e professora da Universidade NOVA de Lisboa, onde desenvolveu seus estudos acerca do barroco português. Seu nome marca a história da literatura de Portugal e do mundo por ter liderado, juntamente com o poeta Melo e Castro o movimento da Poesia Experimental Portuguesa. Um pequeno ensaio sobre a obra visual da artista também comporá a edição no especial de Natal 2022 da Philos.
A pintura que acompanha o texto é de Manuela Navas de sua exposição O concreto que evapora.