“Venho perguntar sobre o lançamento da minha coluna…”, escreveu-me o Pedro no período em que estávamos [a casa philos] em Poços de Caldas participando do Flipoços 2019. Ocorreu-me que esqueci de publicar o poema dele na estreia de sua coluna “Pomar de Brancas Flores”. Sendo assim, fazemos a estreia do espaço do autor lusófono em nossa revista. A fotografia que acompanha o material é do fotógrafo David Segarra. Sem mais delongas, Pedro Belo Clara:

 

Um risco de nuvem
na imensa planura celeste

Dir-se-ia:
dia de linho depurado ao vento

Não sabeis o que o verso quer dizer?

Há que viver a cantiga do melro
a viva marca da primavera em si
para compreender

o sonho doce das espigas
que nenhuma brisa inquieta

o brando fogo dos pomos
que ainda flor
já em êxtase se oferecem ao mundo

o apelo íntimo que ordena ao passo
a suspensão da marcha
diante do rosto anónimo da maravilha

E não mais haverá sede que se aperte
fome roendo a fragilidade do corpo
ele próprio coisa tão pouca

Quando todas as casas da melancolia
desabarem na ausência do suspiro
então saber-vos-eis gémeo do sol


Pedro Belo Clara (Lisboa, Portugal, 1986). Ocasional prelector de sessões literárias, colaborador e colunista de diversas publicações portuguesas e brasileiras, autor de três blogues e de seis livros, entre poesia e prosa.

Publicado por:Philos

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